sexta-feira, 29 de setembro de 2017

UMA ADVERTÊNCIA DE CALVINO AOS DESIGREJADOS

Temos observado com tristeza o crescimento daquilo que tem sido chamado de “desigrejados”. São pessoas que se afastaram da igreja e que não se une a nenhuma denominação cristã. Alguns destes se tornam extremamente críticos contra a igreja, pensando que farão maiores progressos se ficarem bem longe dela.
Algumas destas pessoas se denominam calvinistas, mas não atentaram ainda que o próprio João Calvino foi um homem que teve um senso elevado acerca da igreja. Para ele, “Deus poderia levar os seus à perfeição num só momento; no entanto, Ele quer fazê-los crescer pouco a pouco, sob os cuidados da igreja”. [1]

Calvino via a igreja como uma mãe que por meio de seu ofício e ministério nutria espiritualmente os crentes. A igreja é a mãe daqueles cujo Deus é o Pai. A seguir Calvino escreve: “O amparo paternal de Deus e o testemunho peculiar da vida espiritual estão limitados ao seu rebanho, de modo que o afastar-se da igreja será sempre danoso”. [2]
Para aqueles que não reconhecem ou não se submetem às autoridades eclesiásticas, Calvino nos lembra de que é o desejo do Senhor “que nós nos apliquemos não somente à leitura pessoal, mas também à audição dos mestres por Ele estabelecidos para nos auxiliar neste mister. E há nisso dupla utilidade. Por um lado, é prova de obediência ouvirmos os seus ministros como se Ele mesmo estivesse a falar; por outro, assim o fazendo, Deus leva em consideração nossa fraqueza, pois mediante seus intérpretes, Ele nos fala de modo humano, preferindo nos atrair pelos homens que nos aterrar manifestando sua majestade”. [3]
Sendo assim, “mostram-se ingratos os que acham que a autoridade doutrinal é diminuída pela condição daqueles que foram chamados a ensinar”. [4]
Mas Calvino observa que “muitos fanáticos impelidos pela soberba, pela presunção e pela inveja se persuadem de que farão maiores progressos lendo ou meditando em particular que participando das assembléias públicas, por considerá-las desprezíveis e inúteis. Mas, uma vez que rompem o sagrado vínculo da unidade, não escaparão do justo castigo desse ímpio divórcio, que por fascinação conduz a erros pestíferos e terríveis delírios”. [5]
Para Calvino, a igreja do Senhor, poderia ser identificada por meio de dois sinais externos, a saber: a pregação da Palavra e a administração dos sacramentos segundo a instituição de Cristo. A seguir, ele emenda com esta advertência: “Quão perigosa e perniciosa é a tentação que se insinua no espírito quando se sugere a separação de uma congregação em que se vêem os sinais e marcas com que o Senhor quis distinguir sua Igreja”. [6]
É o objetivo de Satanás nos conduzir a uma destas duas posições: “nos tornar incapazes de reconhecer a Igreja, abolindo ou destruindo os verdadeiros e autênticos sinais pelos quais a reconhecemos; ou, então levar-nos a desprezá-los quando dela nos afastamos por manifesta defecção”. [7]
Para àqueles que se separam da igreja dizendo que ali tem muitos hipócritas e pessoas más, Calvino nos lembra o que aconteceu na igreja dos coríntios e qual a postura do apóstolo Paulo. Após lembrar-se dos vários erros que acontecia naquela igreja, Calvino olha para aquilo que Paulo fez: Paulo não separou-se deles e nem os fulminou com um anátema, mas reconheceu-os e os proclamou Igreja de Cristo e sociedade dos santos. Mesmo fazendo duras admoestações, Paulo não se separa deles.
Exemplo semelhante é o dos profetas. Mesmo a religião estando em grande parte corrompida, Calvino mostra que em meio aos ímpios, havia mãos puras que se erguia ao céu, e Deus era adorado. “Se os santos profetas não se atreveram a se afastar da Igreja por conta daqueles muitos e graves pecados, não só de uns poucos, mas de quase todo o povo, seria muita presunção nossa ousarmos nos separar da comunhão da Igreja só porque a vida de alguém não corresponde ao nosso juízo ou à profissão de fé cristã”. [8]
Assim sendo, “do mesmo modo como é necessário crer na Igreja que nos é invisível mas é conhecida por Deus, assim manda que honremos a Igreja visível e nos mantenhamos em comunhão com ela”. [9]
 Pb. Rikison Moura.



[1] Institutas. Livro 4, capítulo 1. UNESP, p. 469
[2] Ibid, p. 469
[3] Ibid, p. 470.
[4] Ibid, p. 470.
[5] Ibid, p. 470,471.
[6] Ibid, p. 476
[7] Ibid, p. 476.
[8] Ibid, p. 482
[9] Ibid, p. 474

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