sábado, 16 de setembro de 2017

O ESPÍRITO SANTO NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER

Certa feita, numa conversa informal com um ex-ministro presbiteriano, eu ouvi dele que era uma falta a Confissão de fé de Westminster não ter um capítulo falando sobre o Espírito Santo e que quando tentaram corrigir esta falta, destinaram apenas um apêndice na Confissão para falar do Santo Espírito de Deus. Na percepção dele, a Confissão falava pouco do Espírito Santo.
Mas ao ler atentamente a Confissão, vemos que é injusto dizer que ela fala pouco sobre o Espírito Santo. Logo em sua abertura, no capítulo que fala da Escritura Sagrada vemos que o Espírito Santo está de modo inseparável da Palavra. A Escritura é o livro inspirado pelo Espírito e embora pelo testemunho da igreja possamos ser movidos e incitados a termos reverência e apreço pela Escritura, “contudo a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interna do Espírito Santo que, pela Palavra e com a Palavra, testifica em nossos corações” (I.V).

O mesmo Espírito que inspirou as verdades eternas da Palavra nos ilumina a fim de nos fazer compreender as coisas reveladas nela (I.VI). A maneira pela qual o Espírito fala conosco é pela da Palavra (I.X)
No Capítulo 2 “De Deus e Da Santíssima Trindade”, a Confissão honra a revelação bíblica ao afirmar que o Espírito Santo possui a mesma substância, poder e eternidade do Pai e do Filho (II.III).
“Dos Eternos Decretos de Deus” (capítulo 3), vemos a atividade da Trindade Santíssima na salvação dos eleitos. Deus Pai escolhe e destina os eleitos para a glória e esses eleitos são remidos por Cristo e chamados eficazmente no tempo devido pelo Espírito Santo (III.VI).
Na Criação vemos de novo a ação trinitária, pois “Ao princípio aprouve a Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo, para a manifestação da glória de seu eterno poder, sabedoria e bondade, criar ou fazer do nada, no espaço de seis dias, e tudo muito bom, o mundo e tudo o que nele há, quer coisas visíveis quer as invisíveis” (IV. I).
Quando o Verbo de Deus se fez carne, ele foi concebido no ventre da virgem Maria pelo poder do Espírito Santo (VIII.II). E o Senhor Jesus, em sua natureza humana unida à divina foi santificado e sem medida ungido com o Espírito Santo (VIII. III). Ao oferecer-se em sacrifício a Deus, Cristo o fez pelo Eterno Espírito (VIII. V).
O Senhor Jesus, pelo Seu Espírito nos persuade a crer e a obedecer para a salvação, governando os nossos corações pela Palavra e pelo seu Espírito (VIII. VIII). Ao sermos chamados pela livre e especial graça de Deus, somos vivificados e renovados pelo Espírito Santo que nos habilita a corresponder a graça de Deus (X.II). A graça da fé, por meio da qual os eleitos são habilitados a crer para a salvação das suas almas, é obra que o Espírito Santo faz em nossos corações (XIV. I).  
Ao sermos chamados e adotados na família de Deus somos real e pessoalmente santificados pela virtude da morte e ressurreição de Cristo, por sua Palavra e por seu Espírito que em nós agora habita (XIII. I). Esta santificação é imperfeita nesta vida, visto que ainda há em nós restos da corrupção, por isso nasce uma guerra contínua e irreconciliável da carne contra o Espírito. Nesta guerra, embora prevaleçam por algum tempo as corrupções que restam, contudo, pelo contínuo socorro da eficácia do santificador Espírito de Cristo, a parte regenerada vence, e assim os santos crescem em graça, aperfeiçoando a sua santidade no temor de Deus (XIV.II,III).
A fé que recebemos não é uma fé morta, pelo contrário, ela é viva e atuante. As boas obras são o fruto e a evidência desta fé viva. Porém, a capacidade de fazer boas obras de modo algum provém dos crentes, mas inteiramente do Espírito de Cristo (XVI.III), que efetivamente nos influencia para que em nós opere tanto o querer como o realizar (XVI.III).     
Ao falar acerca da certeza da salvação dos filhos de Deus, a Confissão declara: “Esta certeza não é uma simples persuasão conjectural e provável, fundada numa esperança falha, mas uma segurança infalível da fé, fundada na divina verdade das promessas de salvação, na evidência interna daquelas graças nas quais estas promessas são feitas, no testemunho do Espírito de adoção que testifica com os nossos corações que somos filhos de Deus, sendo esse Espírito o penhor de nossa herança, e por meio de quem somos selados para o dia da redenção” (XVIII. II).
O nosso culto deve ser prestado a Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e só a ele. A oração, com ações de graça, sendo uma parte especial do culto religioso, é por Deus exigida, e para que seja aceita, deve ser feita em o nome do Filho, pelo auxílio de seu Espírito, segundo a sua vontade...” (XXI. II, III).
Com estes poucos exemplos, podemos ver que a Confissão, longe de desonrar ou menosprezar o Espírito Santo, o exalta de maneira maravilhosa.  


Pb. Rikison Moura.

3 comentários:

  1. Muito esclarecedor. Essa é a verdadeira doutrina do Espírito Santo. É o que devemos conhecer e não o que, infelizmente, tem sido pregado em algumas igrejas manipulando o Espirito Santo e o colocam como se tivesse a serviço do homem. Bênção pura esse texto. Que seja para o nosso crescimento espiritual.

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  2. Muito bom. Excelente. Parabéns Presb Rikson.

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