William Farel é um dos personagens mais enigmáticos da Reforma
Protestante do século XVI. Ele não era um erudito, mas causou uma profunda
chaga no coração do papismo. Seus sermões eram violentamente dirigidos contra o
“anticristo romano”. Sua coragem é comparável à de Lutero, embora Farel
pareça-me mais radical do que Lutero. Ele era como um relâmpago. Ousado,
destemido, capaz de colocar a sua própria vida em risco, por causa da verdade.
Ele era incansável na obra de Deus. Viajou por vários lugares da Europa,
sempre pregando a Palavra de Deus, de maneira tão dura e direta que era quase
insuportável. Por onde quer que fosse não passava despercebido, sempre
despertando a fúria dos romanistas.
Sua trajetória está marcada por façanhas impressionantes. Certa vez,
Farel pregou no cemitério dos dominicanos, sua voz trovejava tão forte e
solene, que nem mesmo os sinos do convento que eram tocados com o intuito de
silenciar a sua voz, foi capaz de detê-lo.
Outra vez, Farel meteu-se no meio de uma procissão, tomou-lhes a imagem
de escultura e jogou no rio. Grande foi o alvoroço e Farel conseguiu escapar de
ser espancado pela turba enfurecida.
Em sua
primeira estadia em Genebra ocorreu um episódio que demonstra o espírito
destemido deste homem. Farel foi convocado por um concílio episcopal, pois esse
via a sua pregação como uma afronta aos ensinamentos de Roma. Após calorosas
discussões, um dos que ali estavam chamou Farel de “demônio imundo”, e insinuou
que ele perturbava a paz da cidade. Ao que ele respondeu dizendo:
“ Elias disse ao
rei Acabe: 'És tu, e não eu, que perturbas a Israel'. Deste modo eu digo, é
você e os seus, que perturbam o mundo pelas suas tradições, suas invenções
humanas e suas vidas dissolutas ".
Quando Farel deu as costas e saía daquele lugar, alguém disparou contra
ele. Farel simplesmente se virou e disse: “Seus tiros não me assustam”.
Outro episódio marcante foi o encontro entre
Farel e Calvino. João Calvino intentava viajar para a Alemanha, afim de um
lugar tranquilo para estudar. Mas por causa de manobras militares, teve que
passar por Genebra. Quando Farel soube de Calvino, ele o procurou e pediu
humildemente que ele ficasse em Genebra para ajudá-lo, mas Calvino estava
relutante. Foi então que Farel rugiu como um leão e ameaçou o jovem teólogo com
estas palavras:
“Eu declaro, em nome de Deus, que se você não
nos auxiliar nessa obra do Senhor, o Senhor irá puni-lo por seguir seu
interesse em vez de seguir esse chamado”.
Calvino fica tão
impressionado com estas palavras que resolve ficar em Genebra, e o resto da
história todos nós sabemos.
De fato, uma
amizade sincera e grandiosa nasceu no coração desses dois homens. Perto da
morte, Calvino escreve para Farel que estava com quase setenta e cinco anos, e
pede que ele não venha vê-lo, pois se desgastaria demais, mas Farel, impetuoso
como sempre não deu ouvidos a Calvino e veio despedir-se do seu velho e bom
amigo. Parte da carta de Calvino a Farel dizia:
"Adeus, meu melhor e mais verdadeiro irmão! E já que é vontade
de Deus que você permaneça atrás de mim no mundo, viva consciente da nossa
amizade, como algo que foi útil para a Igreja de Deus, de maneira que o fruto
disso nos aguarda no céu. Eu suplico, não se fadigue por minha conta. É com
dificuldade que consigo respirar, todo momento penso que será o último. É
suficiente que eu viva e morra para Cristo, o qual é a recompensa de seus
seguidores, tanto na vida quanto na morte. Novamente, adeus aos irmãos”.
Até o fim de seus
dias Farel foi fiel a Deus. Seus métodos podem até ser criticados, se forem
tomados isoladamente, mas para a obra que Deus chamou Farel a desempenhar, de
arrancar tocos, de contestar, confrontar, enfim, fazer o trabalho duro na Seara
do Mestre, Farel foi importante e cumpriu esse papel, abrindo caminho para que
outros colhessem os frutos do seu árduo trabalho. Não é sem razão que Farel é
conhecido como o “Elias da Reforma”, o homem que trovejou e rugiu como um leão
contra a falsidade de uma igreja que se afastara do Senhor. A Farel o nosso
respeito, a Deus à glória!
Rikison Moura.
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