sexta-feira, 4 de setembro de 2015

LUTERO, CALVINO E A PENA DE MORTE.

Em artigo anterior eu mostrei que a pena de morte é bíblica (Gn 9.5,6; Êx 21.12-17; Dt 24.7; Rm 13.4,5;) e que as principais confissões de tradição reformada, refletindo o ensino da Escritura, também a sustentam. Agora eu quero resumidamente expor o que os dois principais reformadores disseram sobre esse tema:
Comecemos por Martinho Lutero. Para o reformador alemão, a pena capital tem o seu fundamento na Escritura. Ele diz: “Devemos conferir um fundamento sólido à lei e à espada temporais, a fim de que ninguém duvide que é pela vontade e pela ordem de Deus que existem no mundo (Rm 13. 1,2; 1Pe 2. 13-14)”. [1]
Geralmente quando começamos a falar sobre esse assunto, apontamos para Gênesis 9.5,6 como o ponto de partida, o início da pena capital, mas Lutero a via muito antes disto.

“A lei da espada existiu desde o começo do mundo. Com efeito, quando Caim matou seu irmão Abel, teve tal medo de ser morto, por sua vez, que Deus pronunciou uma interdição particular a esse respeito e ab-rogou para ele o poder da espada, a fim de que ninguém o matasse. Caim não teria tido semelhante temor, se tivesse sabido e ouvido dizer por Adão que se deve punir de morte os assassinos”. [2]
Para Lutero, “é falha dos homens, e imputada somente a eles, se essa lei estabelecida por Deus não for aplicada (...) É a vontade de Deus que a espada e a lei temporais sejam manipuladas, a fim de castigar os maus e proteger os homens de bem”.[3]     
O reformador João Calvino desfruta da mesma posição de Lutero. Calvino afirma:
“É verdade que a Lei proíbe matar; no entanto, a fim de que os homicidas não fiquem impunes, Deus, sumo legislador, pôs a espada na mão de seus ministros para usá-la contra os homicidas. Portanto, não se pode considerar dano ou ofensa o fato de que os juízes vinguem, por mandado do Senhor, as aflições padecidas pelos bons”. [4]
Observem que para Calvino, quando as autoridades usavam a espada para punir os maus, eles estavam prestando um serviço ao próprio Deus. Eram instrumentos da justiça divina. Calvino diz: “Entendam os príncipes e demais autoridades que não há nada mais agradável a Deus que a obediência, a piedade, a justiça e a integridade, e se empenhem na correção e punição dos maus”. [5]
Mais adiante, Calvino é direto e incisivo ao afirmar:
A autêntica justiça consiste em perseguir aos ímpios com a espada desembainhada, e aqueles que querem se privar da severidade, conservando as mãos limpas de sangue, enquanto os ímpios matam e fazem violência, tornam-se culpáveis de grave injustiça; longe de serem louvados por sua bondade e justiça, fazem-se culpáveis diante da suma injustiça”. [6] 
Reconheço que o tema é polêmico e respeito opiniões contrárias à minha. Mas estou convicto que essa é a vontade de Deus, que as autoridades tirem a vida aqueles assassinos, bárbaros e desumanos. Creio que essa pena capital aplicada contra homicidas não é apenas legítima, mas obrigatória.
Que Deus possa abrir os olhos das nossas autoridades, para que eles parem de inverter as coisas, pois, infelizmente, temos visto os maus se alastrando e se beneficiando com o crime e os homens de bem encurralados. A ordem não é essa. E sim que os bons são protegidos e os maus severamente punidos.
“Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal” (Rm 13.3,4).
Rikison Moura.      



[1] Lutero, a Liberdade do Cristão. Col. Grandes Obras do Pensamento Universal – 83, p. 77.
[2] Idem, pp. 77,78.
[3] Idem, pp. 78,79.
[4] A Instituição da Religião Cristã, Editora Unesp, tomo 2, Livro 4, p. 884. 
[5] Idem, p.885
[6] Idem, p.885

Um comentário:

  1. Mas quem garante que o estado com legitimidade pra tirar a vida de criminosos, não cometa erros de matar inocentes, como no caso de Jesus Cristo de Nazaré?

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