segunda-feira, 8 de junho de 2015

ENTREVISTA COM LUTERO

Se eu tivesse a oportunidade de entrevistar Lutero, creio que seria mais ou menos assim:
Boa Noite. Seja muito bem-vindo ao Jornal Reforma Já! O seu programa de entrevista dos grandes baluartes da fé cristã. Hoje nós estamos recebendo em nosso programa, um homem que mudou os rumos da Europa, quiçá do mundo inteiro; o servo de Deus, doutor, Martinho Lutero.
1. Lutero, como você explica o espantoso crescimento da Reforma Protestante? Qual o segredo?
- Eu simplesmente ensinei, preguei e escrevi a Palavra de Deus. Fora isso eu não fiz nada. E enquanto eu dormia, a Palavra enfraquecia de tal maneira o papado que nem o príncipe nem o imperador poderiam ter infligido maiores danos sobre ele. Eu nada fiz, a Palavra fez tudo.

2.Então, você não quer levar as honras por esta obra?
- O que se passa atualmente no mundo não é nossa obra. Não é possível que um ser humano sozinho comece e leve adiante semelhante empresa. Foi independentemente de minha intenção e sem meus conselhos que as coisas chegaram até este ponto. Isso continuará muito bem sem meus conselhos e as portas do inferno não o impedirão. É alguém bem diferente que faz girar a roda; mas esse, os papistas não veem e lançam a culpa sobre nós. Mas logo haverão de perceber!
3. Conte-nos, como era a sua vida antes de sua grande redescoberta teológica?
- Quando eu era monge, cansava-me grandemente de tanto buscar o sacrifício diário, me torturei durante quinze anos com jejuns, vigílias, rezas e outras obras muito rigorosas. Acreditava sinceramente que conseguiria a justiça por meio das minhas obras.
4. Que concepção você tinha de Cristo antes de sua conversão?
- Eu o via tão somente como severo Juiz assentado sobre um arco-íris.
5. Então, a sua relação com Deus não era uma relação de amor?
-  Eu não o amava, na verdade, eu odiava o Deus justo que pune os pecadores e, secretamente, se não de forma blasfema, com certeza com grande murmuração, eu estava irado com Deus, dizendo: “Como se não bastasse os miseráveis pecadores, eternamente perdidos por seu pecado original, serem esmagados por toda espécie de calamidade pela lei dos Dez Mandamentos, isto sem ter Deus de acrescentar sofrimento ao sofrimento pelo evangelho, e também pelo evangelho nos ameaçar com sua ira e justiça!” Assim eu me enfurecia com uma consciência perturbada e feroz.
6. Em que ocasião tudo mudou? Como chegaste a concepção de que o justo viverá por fé?
- Finalmente, ao meditar de noite e de dia, pela misericórdia de Deus, prestei atenção ao contexto das palavras, ou seja: Nela a justiça de Deus é revelada, conforme está escrito: Aquele que pela fé é justificado viverá. Ali comecei a compreender que a justiça de Deus é a justiça pela qual o justo vive por um dom de Deus, ou seja, pela fé. Este é o significado: a justiça de Deus é revelada pelo evangelho, ou seja, a justiça passiva pela qual o Deus de toda misericórdia nos justifica pela fé, conforme está escrito: Aquele que pela fé é justo, viverá. Então senti que eu nasci totalmente de novo e havia entrado por portões abertos no próprio paraíso.
7. Daí surge uma polêmica. A Igreja de Roma ensina uma justificação mista de fé e obras, você diz que a Escritura afirma que a justificação é somente pela fé. Com quem reside a autoridade: com o Papa ou com a Escritura?
- Um simples leigo armado pela Escritura deve ser acreditado acima de um Papa ou concílio. [...] Para preservar as Escrituras poderemos rejeitar o Papa e o concílio.
8. Como assim um leigo com a Escritura? Não cabe somente ao Papa e sua hierarquia interpretar a Escritura?
- Declarar que somente o Papa pode interpretar a Escritura é uma fábula disparatada e ultrajante.
9. A igreja católica tem sete sacramentos, mas o senhor atacou e negou cinco e   reconheceu, juntamente com outros reformadores, apenas dois: o Batismo e a Santa Ceia. Por que?
- Aquilo que é afirmado sem a Escritura ou revelação comprovada de Deus pode ser considerado como opinião, mas não é necessário que se creia nisso.
10. Então as Escrituras é a autoridade suprema?
- Só a Escritura é senhor e mestre de todos os escritos e doutrinas sobre a terra. Se isso não for concedido, de que vale a Escritura? [...] A Palavra de Deus é tão sensível que não tolera nenhum acréscimo. Ou é suprema ou nada é.
11. O senhor é um leitor assíduo da Escritura. Quantas vezes por ano o senhor tem lido a Bíblia?
- Já há alguns anos, eu tenho lido a Bíblia inteira duas vezes no ano. Se você imagina a Bíblia como uma poderosa árvore, e cada palavrinha um pequeno galho, eu sacudi cada um desses galhos porque queria saber o que era e o que significava.
12. Por que você não quer que as pessoas que gostam do seu exemplo, palavra, escritos, etc.  Se chamem de luteranos?
- O que é Lutero? Esta doutrina realmente não é minha. Eu não fui crucificado para ninguém. São Paulo, na 1ª Epístola aos Coríntios (III, 4-23), não tolerava que os cristãos se dissessem discípulos de Paulo ou de Pedro, mas simplesmente cristãos. Como eu, pobre envoltório de carne malcheirosa e prometida os vermes, poderia sonhar, pois, que meu miserável nome fosse dado aos filhos de Cristo? Não, meus caros amigos, vamos antes extirpar esses nomes de partidários e chamemo-nos de cristãos, pois, de Cristo nos vem a doutrina que temos.
13. Você certa vez disse que havia casado apenas porque o seu pai o importunava. Isso parece ser uma visão defeituosa do casamento. Mas, afinal de contas, qual a sua verdadeira concepção sobre o casamento?
- Não há relacionamento, comunhão ou companheirismo mais amável, amigável e encantador do que um bom casamento.
14. Em nosso país há uma grande confusão em torno da igreja.  O que eu queria saber de você é o seguinte: o que é a igreja? E qual o distintivo da igreja de Cristo?
- O Credo explica claramente o que é a Igreja: uma comunhão dos santos, quer dizer, um grupo ou reunião de pessoas que são cristãs e santas [...] E onde a Palavra de Deus é pregada, crida, confessada e cumprida. Então você não precisa ter dúvida de que certamente aí está um santo povo cristão.
15. A pregação reformada é conhecida pelo seu compromisso com o texto bíblico, mas os pregadores que consideram o texto são escassos em nossos dias. O que você acha de um pregador que foge e não considera o texto bíblico?
- O pregador deverá permanecer no texto e entregar aquilo que está diante dele, a fim de que as pessoas entendam bem o que ele diz. Mas um pregador que fala tudo que lhe vier à cabeça é como uma empregada que vai ao mercado e, encontrando outra empregada, juntas elas montam uma tenda e fazem um mercado de gansos (...) É uma desgraça um advogado abandonar sua prévia; maior desgraça ainda é o pregador abandonar seu texto.
16. Então, qual é o melhor tipo de pregador?
- O melhor pregador é aquele que melhor conhece a Bíblia; que a guarda não só na memória como também na mente; que entende seu verdadeiro significado, e o trata com efetividade.
17. O tipo de pregação que o você se dedica é a pregação expositiva, mas esse método de pregação não é popular, pois demanda muito estudo. Será que esse é o motivo pelo qual muitos pastores não pregam expositivamente?
- Alguns pastores e pregadores são preguiçosos e não servem para nada. Dependem de livros para conseguir produzir um sermão. Não oram, não estudam, não leem, não examinam as Escrituras. Não são nada senão papagaios e gralhas que aprenderam a repetir sem entendimento.
18. Hoje em dia emana de muitos púlpitos brasileiros, uma pregação que não passa de entretenimento, uma pregação marcada por temas irrelevantes, superficialidade e pragmatismo. O senhor poderia dirigir uma palavra aos pregadores brasileiros?
- Os pregadores não possuem outro oficio senão a pregação do claro sol, Cristo. Que cuidem de assim pregar, ou fiquem calados
19. Lutero, muito obrigado pela sua participação. Uma última palavra aos nossos leitores.
- A voz de Deus ouvida através da Escritura é maior que céu e terra, maior ainda que a morte e inferno, pois ela faz parte do poder de Deus.

Semana que vem receberemos o reverendo, Charles Spurgeon, certamente será uma benção.  Que Deus em Cristo nos abençoe. Esse foi o Jornal Reforma Já!

Rikison Moura.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

LAWSON, Steven: A Heroica ousadia de Martinho Lutero, FIEL
LUTERO, Martinho: A liberdade do Cristão, Editora Escala.

______  Como reconhecer a igreja, Editora Concórdia e Sinodal

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