Se eu tivesse a oportunidade
de entrevistar Lutero, creio que seria mais ou menos assim:
Boa Noite. Seja muito
bem-vindo ao Jornal Reforma Já! O seu
programa de entrevista dos grandes baluartes da fé cristã. Hoje nós estamos
recebendo em nosso programa, um homem que mudou os rumos da Europa, quiçá do
mundo inteiro; o servo de Deus, doutor, Martinho Lutero.
1. Lutero, como você explica
o espantoso crescimento da Reforma Protestante? Qual o segredo?
-
Eu simplesmente ensinei, preguei e escrevi a Palavra de Deus. Fora isso eu não
fiz nada. E enquanto eu dormia, a Palavra enfraquecia de tal maneira o papado
que nem o príncipe nem o imperador poderiam ter infligido maiores danos sobre
ele. Eu nada fiz, a Palavra fez tudo.
2.Então, você não quer levar
as honras por esta obra?
-
O que se passa atualmente no mundo não é nossa obra. Não é possível que um ser
humano sozinho comece e leve adiante semelhante empresa. Foi independentemente
de minha intenção e sem meus conselhos que as coisas chegaram até este ponto.
Isso continuará muito bem sem meus conselhos e as portas do inferno não o
impedirão. É alguém bem diferente que faz girar a roda; mas esse, os papistas
não veem e lançam a culpa sobre nós. Mas logo haverão de perceber!
3. Conte-nos, como era a sua
vida antes de sua grande redescoberta teológica?
-
Quando eu era monge, cansava-me grandemente de tanto buscar o sacrifício
diário, me torturei durante quinze anos com jejuns, vigílias, rezas e outras
obras muito rigorosas. Acreditava sinceramente que conseguiria a justiça por
meio das minhas obras.
4. Que concepção você tinha
de Cristo antes de sua conversão?
-
Eu o via tão somente como severo Juiz assentado sobre um arco-íris.
5. Então, a sua relação com
Deus não era uma relação de amor?
- Eu não o amava, na verdade, eu odiava o Deus
justo que pune os pecadores e, secretamente, se não de forma blasfema, com
certeza com grande murmuração, eu estava irado com Deus, dizendo: “Como se não
bastasse os miseráveis pecadores, eternamente perdidos por seu pecado original,
serem esmagados por toda espécie de calamidade pela lei dos Dez Mandamentos,
isto sem ter Deus de acrescentar sofrimento ao sofrimento pelo evangelho, e
também pelo evangelho nos ameaçar com sua ira e justiça!” Assim eu me enfurecia
com uma consciência perturbada e feroz.
6. Em que ocasião tudo
mudou? Como chegaste a concepção de que o justo viverá por fé?
-
Finalmente, ao meditar de noite e de dia, pela misericórdia de Deus, prestei
atenção ao contexto das palavras, ou seja: Nela a justiça de Deus é revelada,
conforme está escrito: Aquele que pela fé é justificado viverá. Ali comecei a
compreender que a justiça de Deus é a justiça pela qual o justo vive por um dom
de Deus, ou seja, pela fé. Este é o significado: a justiça de Deus é revelada
pelo evangelho, ou seja, a justiça passiva pela qual o Deus de toda
misericórdia nos justifica pela fé, conforme está escrito: Aquele que pela fé é
justo, viverá. Então senti que eu nasci totalmente de novo e havia entrado por
portões abertos no próprio paraíso.
7. Daí surge uma polêmica. A
Igreja de Roma ensina uma justificação mista de fé e obras, você diz que a Escritura
afirma que a justificação é somente pela fé. Com quem reside a autoridade: com
o Papa ou com a Escritura?
-
Um simples leigo armado pela Escritura deve ser acreditado acima de um Papa ou
concílio. [...] Para preservar as Escrituras poderemos rejeitar o Papa e o
concílio.
8. Como assim um leigo com a
Escritura? Não cabe somente ao Papa e sua hierarquia interpretar a Escritura?
-
Declarar que somente o Papa pode interpretar a Escritura é uma fábula
disparatada e ultrajante.
9. A igreja católica tem
sete sacramentos, mas o senhor atacou e negou cinco e reconheceu, juntamente com outros
reformadores, apenas dois: o Batismo e a Santa Ceia. Por que?
-
Aquilo que é afirmado sem a Escritura ou revelação comprovada de Deus pode ser
considerado como opinião, mas não é necessário que se creia nisso.
10. Então as Escrituras é a
autoridade suprema?
-
Só a Escritura é senhor e mestre de todos os escritos e doutrinas sobre a
terra. Se isso não for concedido, de que vale a Escritura? [...] A Palavra de
Deus é tão sensível que não tolera nenhum acréscimo. Ou é suprema ou nada é.
11. O senhor é um leitor
assíduo da Escritura. Quantas vezes por ano o senhor tem lido a Bíblia?
-
Já há alguns anos, eu tenho lido a Bíblia inteira duas vezes no ano. Se você
imagina a Bíblia como uma poderosa árvore, e cada palavrinha um pequeno galho,
eu sacudi cada um desses galhos porque queria saber o que era e o que
significava.
12. Por que você não quer
que as pessoas que gostam do seu exemplo, palavra, escritos, etc. Se chamem de luteranos?
-
O que é Lutero? Esta doutrina realmente não é minha. Eu não fui crucificado
para ninguém. São Paulo, na 1ª Epístola aos Coríntios (III, 4-23), não tolerava
que os cristãos se dissessem discípulos de Paulo ou de Pedro, mas simplesmente
cristãos. Como eu, pobre envoltório de carne malcheirosa e prometida os vermes,
poderia sonhar, pois, que meu miserável nome fosse dado aos filhos de Cristo?
Não, meus caros amigos, vamos antes extirpar esses nomes de partidários e
chamemo-nos de cristãos, pois, de Cristo nos vem a doutrina que temos.
13. Você certa vez disse que
havia casado apenas porque o seu pai o importunava. Isso parece ser uma visão
defeituosa do casamento. Mas, afinal de contas, qual a sua verdadeira concepção
sobre o casamento?
- Não há relacionamento, comunhão ou companheirismo mais amável, amigável
e encantador do que um bom casamento.
14. Em nosso país há uma
grande confusão em torno da igreja. O
que eu queria saber de você é o seguinte: o que é a igreja? E qual o distintivo
da igreja de Cristo?
- O Credo explica claramente o que é a Igreja: uma comunhão dos santos,
quer dizer, um grupo ou reunião de pessoas que são cristãs e santas [...] E
onde a Palavra de Deus é pregada, crida, confessada e cumprida. Então você não
precisa ter dúvida de que certamente aí está um santo povo cristão.
15. A pregação reformada é
conhecida pelo seu compromisso com o texto bíblico, mas os pregadores que
consideram o texto são escassos em nossos dias. O que você acha de um pregador
que foge e não considera o texto bíblico?
- O pregador deverá permanecer no texto e entregar aquilo que está diante
dele, a fim de que as pessoas entendam bem o que ele diz. Mas um pregador que
fala tudo que lhe vier à cabeça é como uma empregada que vai ao mercado e,
encontrando outra empregada, juntas elas montam uma tenda e fazem um mercado de
gansos (...) É uma desgraça um advogado abandonar sua prévia; maior desgraça
ainda é o pregador abandonar seu texto.
16. Então, qual é o melhor
tipo de pregador?
- O melhor pregador é aquele que melhor conhece a Bíblia; que a guarda
não só na memória como também na mente; que entende seu verdadeiro significado,
e o trata com efetividade.
17. O tipo de pregação que o
você se dedica é a pregação expositiva, mas esse método de pregação não é
popular, pois demanda muito estudo. Será que esse é o motivo pelo qual muitos
pastores não pregam expositivamente?
- Alguns pastores e pregadores são preguiçosos e não servem para nada.
Dependem de livros para conseguir produzir um sermão. Não oram, não estudam,
não leem, não examinam as Escrituras. Não são nada senão papagaios e gralhas
que aprenderam a repetir sem entendimento.
18. Hoje em dia emana de
muitos púlpitos brasileiros, uma pregação que não passa de entretenimento, uma
pregação marcada por temas irrelevantes, superficialidade e pragmatismo. O
senhor poderia dirigir uma palavra aos pregadores brasileiros?
- Os pregadores não possuem outro oficio senão a pregação do claro sol,
Cristo. Que cuidem de assim pregar, ou fiquem calados
19. Lutero, muito obrigado
pela sua participação. Uma última palavra aos nossos leitores.
- A voz de Deus ouvida
através da Escritura é maior que céu e terra, maior ainda que a morte e
inferno, pois ela faz parte do poder de Deus.
Semana que vem receberemos o reverendo, Charles Spurgeon,
certamente será uma benção. Que Deus em
Cristo nos abençoe. Esse foi o Jornal
Reforma Já!
Rikison Moura.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
LAWSON, Steven: A
Heroica ousadia de Martinho Lutero, FIEL
LUTERO, Martinho: A
liberdade do Cristão, Editora Escala.
______ Como reconhecer a igreja, Editora
Concórdia e Sinodal
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