Esse é o primeiro dos 73 Salmos
atribuídos diretamente a Davi, e ele o compôs numa ocasião difícil e marcante
em sua vida, quando o seu filho Absalão conspirou contra ele e o perseguiu. Embora
Davi tenha sido um grande homem, infelizmente, mostrou-se um pequeno pai. Sua
casa foi transtornada por vários episódios lamentáveis (Cf. 1Sm 13-18).
1.1 Davi
constata e lamenta o número cada vez mais crescente daqueles que procuram
tirar-lhe a vida. Suas aflições são agravadas pelo fato de que nessa ocasião o
adversário principal, ou o cabeça da rebelião é o seu próprio filho. Absalão
era bem apessoado que por meio de suas palavras aveludadas e mentirosas
“furtava o coração dos homens de Israel” (1Sm 15.1-6). Agostinho disse que: “mentir é querer passar pelo que não é”.
Era exatamente isso que Absalão estava fazendo. Por meio de suas mentiras ele
queria passar uma imagem de um homem justo e bondoso.
1.2 Os
inimigos aumentam e as notícias pioram. A alegação de muitos era que não havia
possibilidade de livramento, não havia escapatória para Davi, “não há em Deus
salvação para ele”.
Essa é a
primeira vez que o termo “selá” aparece nas Escrituras (vv. 2,4,8), sendo usado
71 vezes nos Salmos e três vezes em Habacuque 3. Os hebraístas não apresentam
um consenso quanto às origens desse termo, que podem ser decorrente de palavras
que significam “elevar” ou “calar”. No primeiro caso, trata-se de um sinal para
que o cântico seja entoado em voz bem alta, ou para as trombetas, ou, ainda,
para que as mãos sejam levantadas ao Senhor. No segundo caso, pode ser um sinal
para uma pausa, um momento de silêncio e de meditação.[1]
1.3 Contrastando
o diagnóstico desanimador de muitos, o rei Davi não desanima e afirma a sua
confiança no Senhor Deus de Israel. Davi não ignora os problemas, ele não está
alheio às situações adversas, porém, confia que Deus irá lhe proteger, pois o
Senhor é o seu escudo. Essa imagem do escudo era um símbolo da proteção de
Deus, que primeiramente foi revelado a Abrão (Gn 15.1). Davi foi forçado a abandonar o seu trono,
encontra-se numa situação de vergonha por causa de seus próprios pecados e da
traição do seu filho, mas Deus é a fonte da glória de Davi. Ele confia que o
Deus da aliança não lhe abandonará, e exaltará a sua cabeça.
1.4,5 Davi ora ao Senhor e Deus
misericordiosamente o responde e o ajuda. Assim, confiando sua cabeça ao céu,
Davi dorme tranquilamente, sem temer a espada dos homens. Como dormir tranquilo
tendo uma turba desejosa de derramar o seu sangue? Mesmo na pior das circunstâncias Davi dorme
sossegado porque Deus lhe sustenta e protege. “A ansiedade no coração do homem
o abate...” (Pv 12.25). Porém, ao invés de ficar desanimado, ele lança sobre
Deus toda a sua ansiedade. Isso nos faz lembrar do que escreveu o apóstolo
Pedro:
“Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade,
porque ele tem cuidado de vós” (1Pe 5.7).
Mais tarde o
próprio Davi escreveria: “Confia os teus cuidados ao SENHOR, e ele te susterá;
jamais permitirá que o justo seja abalado” (Sl 55.22).
1.6 Por ser protegido por Deus, Davi
não teme aqueles que se levantam com fúria contra ele. Davi foi forçado a
deixar o seu trono, mas sabia que isso jamais aconteceria com Deus. O Senhor Deus
estava no trono, tendo tudo sob controle.
1.7 Davi clama a Deus que Ele lute e
defenda o seu povo contra os seus inimigos. As palavras de Davi nos lembram as
palavras de Moisés: “Levanta-te, SENHOR, e dissipados sejam os teus inimigos, e
fujam diante de ti os que te odeiam” (Nm 10.35). Davi tinha certeza de que Deus
lhe daria à vitória e foi exatamente isso que aconteceu.
1.8 Davi antevê a vitória e o
livramento efetuado pelas soberanas e bondosas mãos de Deus. A glória pertence
à Deus, é Ele quem nos concede vitória, livramento e benção sobre o teu povo.
Rikison Moura,
V. D. M
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