sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A DOUTRINA DA ELEIÇÃO.

A doutrina da eleição foi motivo de debates acalorados no passado e continua sendo matéria de polêmica em nossos dias. E alguns distorcem essa bendita doutrina gerando grandes prejuízos. Muitas inverdades são lançadas sobre ela, das quais destaco as seguintes:
1. Foi João Calvino que a inventou. Segundo essa teoria, a doutrina da eleição jamais existiria se um homem chamado João Calvino não tivesse criado essa doutrina, que segundo eles é uma grande heresia. Aqueles que se agarram a essa posição, agarram-se em fraco fundamento, pois revelam não apenas desconhecimento bíblico, mas também desconhecimento da própria História da Igreja. Essa doutrina esteve presente nos escritos dos Pais da Igreja, que viveram muito antes de Calvino.
 Agostinho de Hipona, por exemplo, já fazia forte menção a ela no século IV d.C. No entanto, essa doutrina não é calvinista, nem agostiniana, ela é uma doutrina bíblica. Negá-la é jogar fora uma enorme gama de versículos bíblicos. Nós a encontramos nos textos do apóstolo Paulo, nos escritos de Pedro, João, Judas, Tiago, Lucas e nas palavras do próprio Jesus quando disse: “Não fostes vós que me escolhestes a mim, mas eu vos escolhi a vós...” (Jo 15.16).

2. A doutrina da eleição leva uma vida de desleixo. O ponto de partida dessa acusação é o seguinte: se Deus me escolheu para a salvação, então, não importa a maneira que eu viva, serei salvo da qualquer maneira. Esses não levam em consideração o testemunho bíblico que aponta claramente que Deus nos escolheu, não para vivermos no ócio, mas para sermos santos e irrepreensíveis (Ef 1.4). A palavra grega hagios, “santo”, contém a ideia de diferença e de separação. Algo que é hagios é diferente das coisas ordinárias. Por isso, a escolha soberana de Deus leva-nos a um estilo de vida diferente dos demais homens, e isso implica em separação das corrupções do mundo pecaminoso.
Somos eleitos para a santidade. Aqueles que dizem que são eleitos de Deus, mas vivem uma vida mergulhada no pântano do pecado, praticando o mal com ambas as mãos, está provando que não é eleita.
3. A doutrina da eleição não incentiva ao evangelismo. Os que são contrários a doutrina da eleição costumam dizer que essa doutrina é um entrave a obra evangelística, pois se Deus já sabe quem será salvo, então é inútil anunciar a Palavra em todo o mundo.
É fato incontestável que a salvação pertence ao SENHOR (Jn 2.9). Ele nos escolheu antes dos tempos eternos (2Tm 1.9). Ele nos elegeu em Cristo antes da fundação do mundo (Ef 1.4). Não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele quem nos amou primeiro (1Jo 4.10). Deus nos escolhe para a salvação na eternidade, mas nos chama para a salvação no tempo pelo evangelho. Todos os que são eleitos na eternidade são eficazmente chamados pelo evangelho (Jo 6.37; Rm 8.30). [1]
Warren W. Wiersbe diz que o maior estímulo para o evangelismo é saber que Deus preparou certas pessoas para responderem à Sua Palavra.[2]
Compreendendo essa verdade de que o mesmo Deus que determinou o fim (a salvação) também determinou o meio (mediante o evangelho) os cristãos reformados empenharam-se na divulgação do Evangelho entre os perdidos. Evangelistas da envergadura de Edwards, Whitefield, Spurgeon e tantos outros eram profundamente convictos de que Deus escolhe, por pura graça e misericórdia, indivíduos para a salvação, e nem por isso ficaram de braços cruzados. Costumo dizer que não nos preocupemos em saber quem é ou não eleito de Deus, preguemos o evangelho de Cristo, e Deus, mediante o Seu Espírito fará aos eleitos o chamado eficaz.  
A ordem do Senhor é: “Não temas; pelo contrário, fala e não te cales; porquanto eu estou contigo, e ninguém ousará fazer-te mal, pois tenho muito povo nessa cidade” (At 18.9,10). Deus havia destinado algumas pessoas em Corinto a serem salvas, as quais ainda não tinham ouvido o evangelho (At 13.48; Rm 10.13-15), mas a pregação do evangelho levaria os eleitos a fé (Tt 1.1).
4. Não é uma escolha para a salvação. Quem defende essa posição até concorda que Deus escolhe, mas não para a salvação. Talvez para desempenhar algum serviço ou tarefa especial, mas não para a salvação.
Os que defendem essa posição não sabem o que fazer com 2 Tessalonicenses 2.13:
“Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade”.
Deus nos escolheu desde o princípio e nos escolheu para a salvação.
5. Deus escolhe com base na fé prevista. O problema com esse posicionamento é que ele coloca a fé como meritória e como base para a eleição divina. O chamado de Deus é soberano, incondicional e gracioso. Não fizemos absolutamente nada para merecer isso. Deus não nos escolheu porque previu que creríamos em Jesus, mas Ele nos escolheu para crermos em Jesus. “...E creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna” (At 13.48). Observem a declaração extraordinária pronunciadas por nosso Senhor Jesus: “Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas”.
Louvado seja Deus porque a Ele pertence a salvação. Tudo provém de Deus. Até a fé é um dom de Deus (Ef 2.8,9). Por isso, Paulo pôde dizer com segurança, sabendo que essa salvação planejada antes dos tempos eternos seria levado à cabo pelo próprio Deus, e isso o levou a dizer: “Estou plenamente certo que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até o Dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6).


Rikison Moura, V. D. M





[1] LOPES, Hernandes Dias, 1e2 Tessalonicenses, Hagnos, p.204
[2] Comentário Bíblico Expositivo. Vol 6. P.261

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