sexta-feira, 12 de setembro de 2014

AS TESTEMUNHAS DO MESSIAS (1ª PARTE).

Após as impressionantes declarações de Jesus, os fariseus, na tentativa de desacreditá-lo disseram: “Tu dás testemunho de ti mesmo; logo, o seu testemunho não é verdadeiro” (Jo 8.13). Eles baseavam essa declaração na lei de Moisés que requeria o testemunho de duas ou mais testemunhas, dignas de fé, a fim de sustentar a afirmação de um fato ( Dt 19.15). Frank Pack diz que segundo o Mishnah “Homem algum pode dar evidências de si mesmo”.[1] Cristo reconheceu a veracidade deste princípio (Jo 5.31) e não deixou essa questão sem resposta e evocou as suas testemunhas.
O termo “testemunha” é uma palavra-chave no evangelho de João, aparecendo mais de cinquenta vezes. No capítulo 5 do evangelho de João, Jesus Cristo cita várias testemunhas. Quais são portanto, as testemunhas do Messias?
A primeira testemunha é João Batista (5.33). João Batista foi o último profeta da antiga aliança, sendo um dos personagens mais importantes do Novo Testamento, no qual é mencionado pelo menos 89 vezes. João Batista nasceu em uma família sacerdotal, ele pertencia a tribo de Levi (Lc 1.5), ele era primo de Jesus e também seu precursor (Mt 3.3; Lc 1.5-25,36), tendo o privilégio especial de apresentar Jesus à nação de Israel. O ministério de João foi curto, porém, impactante. Ele não fez nenhum milagre, mas tudo que ele disse a respeito de Jesus era verdade (Jo10.41). Ninguém chamado para ser testemunha poderia desejar um elogio maior do que o de todas as coisas que ele disse serem verdadeiras. [2]

 Antes de João Batista ser preso pelo sanguinário Herodes e de permanecer aprisionado na fortaleza de Marquero, houve certo momento em que seu ministério se sobrepôs ao de Jesus á ponto dos líderes judaicos enviarem uma delegação para interroga-lo a fim de descobrirem quem ele era. Que testemunho esse servo de Deus deu à respeito de Jesus?
Em primeiro lugar, Jesus é eterno: “João testemunha a respeito dele e exclama: Este é o de quem eu disse: o que vem depois de mim tem, contudo, a primazia, porquanto já existia antes de mim” (Jo 1.15). Essa afirmação de João acerca de Jesus não pode se referir ao dia de seu nascimento, uma vez que João era seis meses mais velho do que Jesus (Lc 1.36), essa afirmação refere-se à preexistência de Jesus, antes de João ser concebido, Cristo já existia (Jo 1.30). O testemunho de João Batista corrobora com a afirmação do apóstolo João com relação à eternidade do Verbo encarnado (Jo 1.1-3).
Em segundo lugar, Jesus é a perfeita revelação do Pai: “Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou” (Jo 1.18). Cristo revela Deus para nós, pois ele é “a imagem do Deus invisível” (Cl 1.15), e “a expressão exata do seu Ser” (Hb 1.3). O termo traduzido por “revelou” dá origem a nossa palavra exegese e significa “explicar”, “esclarecer”, “conduzir”. Jesus Cristo explica e interpreta Deus para nós. É simplesmente impossível entender Deus sem seu Filho, Jesus Cristo. [3] Somente alguém que conhece completamente o Pai pode torná-lo totalmente conhecido. [4] Ele está no seio do Pai, indicando a intimidade, o amor e o conhecimento mútuos existente entre a divindade.
Em terceiro lugar, Ele é Senhor: “Então, ele respondeu: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías” (Jo 1.23). Esse é um título de sua divindade. A palavra “Senhor” no grego, Kyrios era equivalente a “Jeová” na tradução grega do Antigo Testamento; portanto, para os judeus “o Senhor Jesus” era claramente uma imputação de deidade.[5] Kyrios é um termo empregado para traduzir o nome de Deus mais de 6.500 vezes na versão grega do Antigo Testamento. Nesse caso, qualquer leitor do grego do Novo Testamento reconheceria quando a palavra “Senhor” era uma referência ao nome do Criador dos céus e da terra, o Todo-Poderoso. [6] Kyrios é usado no Novo Testamento para designar tanto o Deus Pai, o Deus soberano (Mt 1.20; 9.38; 11.25; At 17.24; Ap 4.11), como Jesus (Lc 2.11; Jo 20.28; At 10.36; 1Co 2.8; Fp 2.11; Tg 2.1; Ap 19.16).[7] Willian Childs Robinson comenta que quando Jesus “é referido como o Senhor exaltado, é de tal modo identificado com Deus que há uma ambiguidade em algumas passagens, não se sabendo se tratam do Pai ou do Filho (At 1.24; 2.47; 8.39; 9.31; 11.21; 13.10-12; 16.14; 20.19; 21.14; cf. 18.26; Rm 14.11)”.[8]
Em quarto lugar, Ele é o Cordeiro de Deus: “No dia seguinte, viu João a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (Jo 1.29). A pergunta do Antigo Testamento é: “Onde está o cordeiro?”. A exclamação do Novo Testamento é: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!”. No AT o cordeiro não podia remover o pecado, mas o Cordeiro de Deus pode. No AT o cordeiro era entregue por homens a outros homens, mas o Cordeiro divino é entregue por Deus a homens. Warren Wiersbe diz que só no livro de Apocalipse Jesus é chamado de “Cordeiro” pelo menos vinte e oito vezes. A ira de Deus é a “ira do Cordeiro” (Ap 6.16); a purificação é “pelo sangue do Cordeiro” (7.14); e a Igreja é a “noiva do Cordeiro” (19.7; 21.9); Jesus quer ser conhecido por toda a eternidade como o Cordeiro! [9]
Em quinto lugar, Ele é Filho de Deus: “Pois eu, de fato, vi e tenho testificado que ele é o Filho de Deus” (Jo 1.34). Jesus é o Filho de Deus em um sentido único. Charles Swindoll nos esclarece o seguinte:
“No hebraico popular, ser “filho” significava compartilhar de todas as qualidades comuns do pai e herdar seus privilégios e poder. Ninguém ousava declarar-se filho de Deus, pois, nesse caso, seria acusado de blasfêmia. Somente alguém que possuía as qualidades e os poderes de Deus, bem como a autoridade divina para governar, poderia chamar a si mesmo de “filho de Deus”. O fato de Pedro dar a Jesus esse título significava que Jesus era um objeto digno de adoração como o Deus que os judeus fiéis adoravam no templo havia vários séculos”.[10]
Esse é o testemunho de João Batista, o fiel precursor do Messias, e nesse testemunho podemos depositar a nossa confiança, pois esse testemunho não foi produto de sua imaginação, mas sim da revelação divina. “Eu não o conhecia; aquele, porém, que me enviou a batizar com água me disse: Aquele sobre quem vires descer e repousar o Espírito, esse é o que batiza com o Espírito Santo” (Jo 1.33).
Rikison Moura, V. D. M



[1] PACK, Frank, O Evangelho Segundo João, (Vida Cristã), p. 138.
[2] F. F. Bruce, João, Introdução e Comentário, (Vida Nova) p. 206.
[3] Warren Wiersbe, Comentário Bíblico Expositivo vol. 1, p. 369.
[4] F. F. Bruce, João, Introdução e Comentário, (Vida Nova) p. 50.
[5] Myer Pearlman, Conhecendo as Doutrinas da Bíblia (Vida) p. 101.
[6] Severino Pedro da Silva, Cristologia In. Teologia Sistemática Pentecostal (CPAD) p. 118.
[7] Millard J. Erickson, Introdução á Teologia Sistemática (Vida Nova) p. 280.
[8] Idem
[9] Warren Wiersbe, Palavras da Cruz, (CPAD) p. 46.
[10] Charles Swindoll, Jesus o Maior de Todos, (Mundo Cristão) p. 27.

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