De todas as cartas paulinas provavelmente Romanos
seja a mais importante. Além de ser a sua carta mais extensa é uma das mais
doutrinárias, ricas e estruturadas. E essa carta mais do que qualquer outra tem
influenciado de maneira decisiva a história mundial.
Foi por intermédio da leitura dessa carta que no
verão de 386 d. C, Aurélio Agostinho foi convertido a Cristo. Agostinho, antes
de sua conversão, levava uma vida marcada pela imoralidade, ele sabia que
aquele modo de vida era incorreto, mas não conseguia libertar-se dos seus
vícios sexuais, ele mesmo admite que a sua constante oração era: Dá-me o dom de castidade, mas ainda não.
Assim uma verdadeira batalha era travada na alma de Agostinho, uma luta entre o
querer e o não querer. Queria tornar-se cristão, mas não desejava abandonar as
alegrias mundanas.
Certo dia, em agosto de 386, Agostinho se pôs a
chorar no Jardim de seu amigo Alípio. Em terrível agonia de espírito, Agostinho
quase persuadido a começar vida nova, mas sem chegar à resolução final de
finalmente romper com a vida que levava. Naquele terrível dilema, Agostinho
ouviu uma canção infantil, uma criança cantava: Tolle, lege! Tolle, lege! (Toma e lê! Toma e lê). Ao voltar os seus
olhos ao manuscrito que estava ao lado os seus olhos foram guiados a estas
palavras:
“Andemos
dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e
dissoluções, não em contendas e ciúmes; mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo
e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências” (Rm
13.13,14).
O próprio Agostinho confessa: “Não quis ler mais,
nem era necessário. Mal terminara a leitura dessa frase, dissiparam-se em mim
todas as trevas da dúvida, como se penetrasse no meu coração uma luz de
certeza”.
Agostinho tornou-se o maior teólogo da igreja
ocidental. Dos escritos do “doutor da graça”, como ficou conhecido, beberam
grandes homens como Lutero e Calvino. O que a igreja e o mundo devem a este
influxo de luz que iluminou a mente de Agostinho quando leu essas palavras de
Paulo, é algo que está além da nossa capacidade de avaliação. [1]
Em novembro de 1515, o monge agostiniano, Martinho
Lutero, professor de teologia sagrada na Universidade de Wittenberg, começou a
expor a Epístola de Paulo aos Romanos aos seus alunos, e continuou esse curso
até setembro seguinte. A Escritura que se destacou de todas as outras e que
tirou Lutero da mera religião morta, conduzindo-o à alegria da salvação pela
graça, por meio da fé, foi Romanos 1.17: “O
justo viverá por fé”. Foi nesse
período que a gloriosa verdade divina da justificação pela fé entrou em sua
vida. Quando Lutero entendeu que a justiça de Cristo é imputada a nós, por pura
graça e misericórdia ele escreveu: “Esta passagem veio a ser para mim uma porta
para o céu”. Seus olhos foram abertos, sua mente foi iluminada e seu coração
encontrou repouso seguro na obra de Cristo. A justiça de Deus trouxe-lhe
descanso a sua alma cansada.
Entrincheirado nessa verdade, Lutero desencadeou um
dos maiores movimentos da igreja desde o Pentecostes. A carta de Paulo aos
Romanos foi o tiro de canhão usado por Lutero para despertar as pessoas pressas
na fortaleza da morta tradição.
Na Inglaterra do século 18 um grande avivamento foi
desencadeado pelo efeito de Romanos. Naqueles dias os pregadores eram frios,
vazios e sem poder. Poucos ousavam crer na veracidade e na suficiência das
Escrituras. Muitos, após pregarem os seus sermões sem vida, desciam do púlpito
para se embriagarem nas mesas de jogos.
Nesse tempo de apostasia, um grupo de jovens começou
a se reunir e a orar pelo reavivamento espiritual, formando o chamado “Clube
Santo”. No dia 24 de maio de 1738, John Wesley visitou – de muita má vontade –
uma reunião dos irmãos morávios, na rua Aldersgate, em Londres. Naquela reunião,
Wesley ouviu a leitura do prefácio de Lutero ao comentário de Romanos e como
ele mesmo disse: “o meu coração foi estranhamente aquecido. Senti que confiava
em Cristo, somente em Cristo, para a minha salvação. Foi-me dada a certeza de
que Ele tinha levado embora os meus pecados,
sim, os meus. E me salvou da lei do
pecado e da morte”.
Começava ali um grande despertamento espiritual.
Wesley tornou-se um líder de grande expressão na Inglaterra. Criou depois a
igreja metodista, uma igreja que buscava a santidade, o fervor espiritual e a
salvação dos perdidos. A influência de John Wesley não ficou restrita a
Inglaterra, o que já seria notável, mas atingiu horizontes ainda mais largos.
Em agosto de 1918, Karl Barth, pastor em Safenwil,
do Cantão de Aargau, na Suiça, publicou uma exposição da Epístola de Paulo aos
Romanos. No prefácio de sua obra ele escreveu: “O leitor perceberá por si mesmo
que foi escrito com um jubiloso sentimento de descoberta. A poderosa voz de
Paulo era nova para mim. E se o era para mim, certamente o seria para muitos
outros também. Entretanto, agora que terminei minha obra, vejo que resta muita
coisa que ainda não ouvi”.
Karl Barth combateu tenazmente o liberalismo
teológico dos seus dias, e o seu comentário aos Romanos é considerada a sua
obra mais contundente. Alguém já disse que o comentário de Karl Barth “caiu
como uma granada no pátio de recreio dos teólogos, uma verdadeira bomba no
acampamento dos teólogos liberais”.
A Epístola de Paulo aos Romanos tem sido um divisor
de águas na História da Igreja Cristã. Os maiores nomes da igreja tem voltado a
sua atenção as palavras do apóstolo Paulo aos Romanos e os benefícios
encontrados nos comentários de Martinho Lutero, João Calvino, Karl Barth, John
Murray, F. F. Bruce, Warren Wiersbe, Lloyd-Jones, John Stott e tantos outros
são importantíssimos!
F. F. Bruce disse que não é possível predizer o que
pode acontecer quando as pessoas começam a estudar a Epístola aos Romanos. O
que sucedeu com Agostinho, Lutero, Wesley e Barth acionou grandes movimentos
espirituais que deixaram sua marca na história do mundo.[2]
Rikison Moura, V. D. M.
muito bom !
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