O apóstolo Paulo não era apenas um
plantador de igrejas. Além de ser um missionário engajado na expansão do Reino
de Deus, Paulo também era um exímio teólogo, um pastor amoroso e um apologista
brilhante. Ao escrever a sua carta aos Colossenses, Paulo demonstra de maneira
clara essa sua faceta de apologista. Quando Paulo escreveu sua carta aos
crentes de Colossos ele estava preso. Mesmo preso, Paulo ficou sabendo do que
estava acontecendo na igreja dos Colossenses. Essas notícias foram trazidas por
Epafras, que, ao que tudo indica, foi um dos principais fundadores da igreja de
Colossos (Cl 1.7). Epafras também ministrou nas cidades de Laodicéia e
Hierápolis (Cl 4.12,13). O relatório de Epafras falava acerca do amor dos
colossenses por Paulo (Cl 1.3,4), mas, infelizmente, o relatório de Epafras não
era somente flores; um grave problema estava ameaçando a igreja. Ela estava
sendo exposta a um falso ensino. Falsos mestres se introduziram na comunidade
cristã e pervertiam o evangelho ensinado por Paulo e transmitido a eles por
Epafras. A heresia de Colossos era um caldo venenoso. Uma mistura maléfica de
filosofias orientais, legalismo judaico, astrologia pagã, misticismo e
ascetismo. Toda essa confusão era um perigo á saúde da igreja.
Portanto, a carta de Paulo aos
Colossenses é uma refutação a esses ensinamentos heréticos e ao mesmo tempo uma
apresentação do verdadeiro evangelho. A igreja de Colossos estava sob forte
ataque, os ensinamentos apostólicos estavam sendo corrompidos, os falsos mestres
ganhavam terreno, diante de tamanho agravo, o veterano apóstolo não fica na
defensiva e destila a mais pura apologética!. Seria um erro pensarmos que as
heresias que Paulo combateu na igreja de Colossos estejam longe de nós. As
heresias são como as ondas do mar, elas vão e voltam, sempre esperando algum
desavisado que flerte com ela. Os inimigos da verdade não descansam de destilar
o seu veneno mortífero contra a igreja do Senhor. O legalismo ameaçou a verdade
do evangelho e a liberdade cristã na igreja dos gálatas e dos colossenses (Gl
2.14 ) e ainda hoje nos ameaça. O legalismo é um dos maiores males que atingem
nossas igrejas cristãs. O legalismo concentra a sua atenção no comportamento,
ele procura controlar o crente, mediante a observância de regras e
regulamentos. Paulo deixa diametralmente claro que o legalismo é “preceitos e
doutrinas de homens” (Cl 2.22). Dependendo da denominação esses preceitos
aumentam ou diminuem, mas esse exercício de obediência externa nega a
supremacia e a suficiência de Cristo, além de roubar a liberdade e a alegria do
cristão e não servindo de nada, senão para a satisfação da carne. O legalismo é
incapaz de vencer o pecado. O legalista considera que a obediência externa e
formal da lei é meritória. Porém, para Deus, toda boa ação humana é considerada
como trapos imundos (Is 64.6), uma oferta contaminada pelo egoísmo e
autopromoção.
O legalista tenta alcançar o favor
divino mediante a ação externa, negando assim a suficiência de Cristo. O
legalismo se define pelo visível. Sua motivação, como no caso de toda espécie
de hipocrisia, é a de ser visto pelos homens. O legalismo é a religião dos
fiscais da fé. Eles andam espionando a liberdade cristã. São escravos de uma
infinidade de regras. Olham com desdém para aqueles que não seguem a sua
cartilha. Veem como desviados aqueles que não se adequam a seu modo de pensar.
São escravos que não experimentaram a liberdade do Evangelho. Perdem de vista
toda a glória do Evangelho de Jesus Cristo, pois se preocupam mais com a roupa
e regras humanas, fazendo disso o seu grandioso assunto. O apóstolo Paulo, via o legalismo como um jugo
de escravidão: “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois,
firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão” (Gl 5.1).
Paulo escreveu aos colossenses: “Se
estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregais
ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como não toques, não
proves, não manuseies. Essas coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos
e doutrinas dos homens; as quais têm na verdade, alguma aparência de sabedoria,
em devoção voluntária, humildade e em disciplina do corpo, mas não são de valor
algum, se não para a satisfação da carne” (Cl 2.20-23).
O legalismo procura controlar o crente
como alguém que vive no mundo (“como se vivêsseis no mundo”). O maior problema
é que esses falsos ensinamentos são elaborados segundo os “rudimentos do mundo”
e não segundo Cristo (Cl 2.8). A palavra grega para rudimentos é stoicheia e
refere-se a um elemento de uma fileira ou série e tem vários significados: (1)
os sons ou letras elementares, o abecedário (2) os elementos básicos do
universo, como no caso de 2 Pedro 3.10-12; (3) os elementos básicos do
conhecimento, os princípios de um sistema, como no caso de Hebreus 5.12. (3)
“espíritos caídos que escravizam” (traduzido por “rudimentos” em Gl 4.9). Paulo
declara aos gálatas que voltar ao legalismo era como voltar para a adoração
pagã (cf. Gl 4.8-11). O apóstolo Pedro também classificou o legalismo como um
jugo, uma canga no pescoço: “Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a
cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós podemos suportar?”
(At 15.10). Pedro está dizendo que aqueles que tentarem somar as obras da lei
com a fé em Cristo estarão tentando á Deus, pois, significaria que a morte
sacrificial de Cristo não é suficiente para efetuar a salvação (ver Gl 2.21).
Esse jugo pesado chamado legalismo gera
temor, arrogância e hipocrisia. Temor, pois, o crente que vive na prática do
legalismo, ao quebrar as “regras” sente-se um miserável. “Hoje eu ofendi á
Deus, passei duas horas assistindo televisão!”. O legalismo gera arrogância,
tornando o individuo um legitimo fariseu (“não danço, não bebo, não fumo”),
porém, esquecemos que muitos incrédulos também não praticam tais coisas, mas
nem por isso estão mais pertos do reino de Deus. Esse jugo também gera
hipocrisia, pois, muitos legalistas, são obedientes as “regras” somente nas
reuniões. Fora da igreja ele muda completamente, isso porque não está sendo
policiado pelo seu pastor.
Sem dúvida, o legalismo é tipicamente
farisaico, e todos aqueles que o seguem, inevitavelmente, receberão a
reprovação do Senhor. Cristo já nos pôs em liberdade, somente aqueles que ainda
não entenderam essa realidade se submetem outra vez a esse jugo chamado
legalismo. O legalismo procura fazer o impossível: mudar a velha natureza e
obrigá-la a obedecer às leis de Deus. Porém, o legalista é incapaz de vencer a
carne, pois ele é dependente da carne, é escravo da carne e vive somente para
si mesmo, buscando desesperadamente o louvor e a aprovação dos homens.
O legalismo é cruel e destruidor. Ele
escraviza o individuo com suas normas e infinitas regras. O pecador vem do
mundo escravizado pelo pecado e quando chega à igreja buscando alívio para a
alma é novamente escravizado pelo legalismo. Quantas pessoas já saíram da Casa
de Deus e se decepcionaram com a graça por causa do legalismo? Quantas pessoas
não suportaram carregar esse jugo de servidão? Quantas não estão nesse exato
momento sofrendo ao carregar esse fardo intolerável?. Mas Cristo lhe chama á
liberdade. Ele já lavrou a nossa carta de alforria. Não precisamos mais viver
como escravos. Ele nos deu liberdade. Estamos livres!
Texto do irmão Rikison Moura
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